Religião
Com o desenvolvimento ocorrido no entorno da Estrada do Arraial do Rio Vermelho, as terras originalmente ocupadas pelos índios começaram a ser ocupadas por outros povos, essencialmente esses povos eram de religião católica ou de matriz africana.
Entende-se que o
bairro da Federação surge da urbanização de fazendas, chácaras e pequenas roças, terreno esses que
pertenciam originalmente aos indígenas. Logo em seguida passando para a Igreja,
dai a forte ligação religiosa do bairro tendo a presença de várias igrejas,
como a Igreja de São Lázaro criada na primeira metade do século 18 com registro
patrimonial datado de 1734. Dentre outras como a paróquia do Divino Espírito Santo localizada no Alto das Pombas e uma
das mais famosas que foi construída junto com o cemitério do Campo Santo.
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Festa de São Gonçalo |
Em relação a essa ligação religiosa cabe destacar a Capela de São
Gonçalo do Rio Vermelho foi provavelmente a primeira igreja dedicada ao santo,
no Brasil, construída entre 1636 e 1695. Em 1724, o templo foi doado ao Mosteiro de
São Bento. No final do século 18, a imagem de São Gonçalo foi transferida
para a Igreja do
Bonfim e a festa de São Gonçalo foi adaptada para o novo local.
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Ruínas da Capela de São Gonçalo em 1835 |
Capela localizava-se no alto da atual Rua Almirante Barroso, no
bairro do Rio Vermelho. O local ainda é conhecido como o
Alto de São Gonçalo e se liga diretamente com Avenida Cardeal da Silva antiga
estrada que ligava Rio Vermelho ao centro da cidade.
A primitiva
Capela do Campo Santo foi construída junto com o Cemitério do Campo Santo, em 1836, mas foi
destruída no movimento conhecido como a Cemiterada, que buscava o retorno aos
sepultamentos nas igrejas, proibidos em 1835, por questões sanitárias.
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Primeira Igreja do Campo Santo |
Em 1839, a Santa Casa de Misericórdia passou a
administrar o Campo Santo. Em 1841, o Cemitério e a Capela foram reconstruídos.
A atual Capela de Nossa Senhora da Piedade, a terceira edificada
no local, teve sua construção iniciada em novembro de 1870 e foi inaugurada em
7 de junho de 1874. O projeto, em estilo neogótico, é do arquiteto Carlos
Croezy, que também fez o projeto do Hospital
Santa Izabel.
O
Santuário de São Lázaro e São Roque é mais antigo do que a Igreja mais famosa
de Salvador, a do Senhor do Bonfim e também está localizado na Federação. O mais
antigo documento histórico que fala sobre a existência da Capela de São Lázaro
é de 12 de outubro de 1737. Ao Santuário de São Lázaro estava ligado o
hospital chamado de “Lazareto”, afastado do centro de Salvador, destinado ao
tratamento das pessoas portadoras de doenças contagiosas, dentre elas, os
escravos trazidos da África.
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Igreja de São Lázaro |
É uma das quatro capelas baianas em estilo
colonial do início do século XVIII. Seus frequentadores, em sua grande maioria,
são de raízes afrodescendentes, vindos das periferias de Salvador. Eles têm um
sentimento de pertença muito grande ao patrimônio construído pelos seus
ancestrais e sentem que este lugar, além de sagrado, é parte da história de
lutas, sofrimentos e conquistas do seu povo.
Também existe uma forte presença de religiões de matriz africana no bairro, cabendo destaque o Terreiro do Gantois ou Ilê Axé Iyá Omin Iyamassê é o mais
famoso e um dos mais importantes terreiros do País. Fundado na primeira
metade do século XIX, provavelmente decorrente de um processo de dissidência do
Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Terreiro da Casa Branca) sabe-se que a primeira Ialorixá
do Gantois foi iniciada no Casa Branca, o seu nome africano, Ilê Axé Iyá Omin Iyamassê,
faz alusão a uma divindade feminina, senhora das águas. Já o nome em português
refere-se ao antigo proprietário do terreno onde está estabelecido o terreiro:
um europeu chamado Gantois.
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Terreiro Ilê Axé Iyá Omin Iyamassê |
O terreiro está situado na Rua Mãe Menininha do Gantois, s/n
(antigo Alto do Gantois, n.23), bairro da Federação, Salvador, Bahia, e ocupa
uma área de cerca de 3.600 m², entre a parte cumeada do morro e o vale. Seus
espaços são divididos em áreas de acesso público, semipúblico e restrito.
Também encontra-se no bairro a Igreja Evangélica de Confissão Luterana, na Rua Professor
Aristides Novis, 07, Federação adquirida em 1957. Antes disto os cultos
eram realizados na Sociedade Alemã Germânica ou em casas de membros da igreja.
Atualmente a comunidade é formada por setenta famílias, muitas delas
descendentes de Alemães, suíços e austríacos, além de pessoas do sul e sudeste
do país que residem em Salvador. O pastor Armindo destaca que o objetivo da
igreja é divulgar o evangelho e participar de encontros ecumênicos. Martim
Lutero é um ex-padre que no século XVI que enfrentou com suas críticas os
dogmas da Igreja Católica, o que desencadeou a Reforma Protestante. Lutero,
entre outros princípios, defendeu a pregação em língua local, e traduziu a
bíblia do latim. O protestantismo ganhou muitos adeptos na Europa e se estendeu
para outras partes do mundo. Na Igreja Evangélica de Confissão Luterana as
crianças têm oportunidade de participar do Culto Infantil. São promovidos
também encontros e atividades culturais, destacando-se dois grupos: um grupo
formado por senhoras da terceira idade, que fazem trabalhos filantrópicos e a
Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas, um grupo de mulheres que se reúne
com o objetivo de ler o evangelho, e que também confecciona artesanatos e
comidas típicas, que são vendidos no tradicional bazar de Natal da igreja.
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Igreja Luterana |
Para além dos templos e Igrejas acimas citados, o bairro apresenta muitas outras igrejas como a Paróquia localizada no final de linha do Alto das Pombas um sub bairro da Federação, uma série de outras congregações evangélicas e outros terreiros de candomblé menores.
Matéria muito interessante e cheio de descobertas! Citou situações e lugares que não tinha me dado conta, com certeza vou levar para a minha sala de aula pois muitos dos meus alunos residem nessas localidades. Parabéns pelo relato.
ResponderEliminarEssas informações reforçam a grande diversidade de religiões e culturas em Salvador, e servem para esclarecimentos importantes, pois acreditava que a origem do nome Gantois era africana e não européia. muito bom amigo, parabéns.
ResponderEliminarUau, mega interessante. Devo ressaltar sua escrita! Me aproximou muito do bairro e da história, não sou moradora do bairro, mas sou soteropolitana e sua escrita me deu a sensação de pertencimento a minha cidade de uma forma mais ampla.
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