ENTREVISTA
Entrevista
realizada com duas moradoras antigas do bairro, uma reside há 70 anos e outra
reside há 100 anos, em ambos os casos não houve autorização dos familiares para
divulgação dos respectivos nomes, mas foram passadas informações bastantes
significativas para o trabalho. A primeira moradora, que reside há 100 anos no
bairro e que inclusive mora na mesma rua em que eu moro, relatou dados bem
ricos sobre a rua que foram bem detalhados, quando cito historicamente o
surgimento de minha rua, neste mesmo site, a outra moradora relata maiores informações
acerca do bairro e da forte batalha com a Santa Casa de Misericórdia pela posse
do terreno.
Em
ambos os casos foram dirigidas perguntas semelhantes para as moradoras. Por
questões didáticas, nessa entrevista chamo a moradora de 100 anos de
entrevistada 1 e a de 70 entrevistada 2.
1 Como se configurava o bairro na
época em que a senhora começou a morar aqui?
Entrevistada 1: “O
bairro era fechado de mato por todos os lados, com alguns caminhos que davam
acesso para o mar, tinha também várias fontes naturais e um riacho que passava
no fundo da minha casa onde lavava roupa de ‘branco’ para sustentar meus 7
filhos, tinha um campo de jogar bola antigo, cheio de barro onde a molecada
costumava brincar, e as casas da rua eram tudo de taipa, tendo bem poucos
prédios por aqui”.
Entrevistada 2: “Logo
que mudei para cá, ainda menina, a Rua Teixeira Mendes, a principal do bairro
nem existia ainda, o local era totalmente fechado pela Santa Casa, e pra gente
sair do bairro tinha que passar por dentro do cemitério. Além disso, tinha
várias descidas de acesso a praia que depois foram sendo fechada com as construções
que foram surgindo com o tempo. O bairro tinha muitas fontes naturais onde as
lavadeiras ganhavam a vida e sustentavam suas famílias, lavando e passando para
os ‘brancos’ da Garça. Quase não tinha comércio e tudo que precisávamos comprávamos
na Feira de São Joaquim. Antigamente tinha uma linha de ônibus que entrava no
bairro e ia até o final de linha e depois ia até o final de linha de São
Lázaro, mas a prefeitura tirou. A população daqui era muito pobre, os meninos
ia brincar na ladeira do ‘Vai Quem Quer’ onde tinha um campo de futebol, mas
acabaram com tudo”.
2 Como era a população que residia
no bairro na época em que a senhora veio morar aqui?
Entrevistada 1: “Eu
vim pra cá muito nova, morávamos no Vale do Canela, mas como me casei cedo vim
pra aqui com meu marido e meu primeiro filho, o povo que morava aqui era muito
pobre, a maioria trabalhava como coveiro no Campo Santo ou fazendo bico na casa
dos ‘branco’ e as outras mulheres éramos lavadeiras ou trabalhávamos na cozinha
dos brancos para ajudar a sustentar a casa. A parte do povo que não era negra,
ou vinham do interior e construam seus barracos aqui no terreno da Santa Casa
ou eram trabalhadores do próprio cemitério”.
Entrevistada 2: “Quando
vim morar aqui com minha família eu era muito nova ainda, mas me lembro que boa
parte da população era negra, muito pobre, trabalhavam no Campo Santo e fazendo
pequenos trabalhos nas casas do ‘brancos’, as mulheres eram domésticas nas
casas da Graça e assim sustentavam suas famílias. Tinha também as famílias novas
que vinham de outros bairros ou interior morar aqui, pois era um terreno
central que teoricamente pertencia a Santa Casa de Misericórdia, portanto não
havia muitos problemas para efetuar construções nos locais, mais a Santa Casa
se achando dona do bairro começou a cobrar taxas dos moradores para que fossem construídas
moradias, além disso houve uma luta muito grande da população do bairro para
que houvesse a abertura da entrada principal para que pudéssemos entrar e sair
do Alto das Pombas sem a necessidade de entrar no cemitério”.
Entrevistada 2: “A
o bairro mudou muito, na principal, a Rua Teixeira Mendes se desenvolveu batente,
agora tem vários mercadinhos onde antes só tinham bancas de vendedores, que
vendiam o que plantavam em seus quintais ou iam comprar na Feira de São Joaquim
para vender aqui na entrada, aliás tem duas barraquinhas que sobreviveram logo
na entrada do ‘Beco do Mijo’ o resto deu lugar as funerária e aos mercadinhos
que foram sendo construídos, as passagens que a gente tinha para a praia foram
sendo aos poucos fechadas, hoje só tem acesoa a praia pelo Camarão, pela Bomba
ou pegando ônibus no Campo Santo, a tem a Estrada de São Lázaro também”.
Realmente esse bairro é muito antigo, conheci o bairro através do SMURB/UFBA, pois os alunos são orientados a atualizarem a vacinação(calendário vacinal) no posto de saúde daí do Alto das pombas!
ResponderEliminarO impressionante dessa entrevista é a memória preservada das moradoras e a riqueza dos detalhes.
ResponderEliminarO que me chama a atenção era a proibição de passagem pelo bairro por conta da Santa casa e hoje eu vejo a federação como bairro de transição para inúmeros outros bairros.
ResponderEliminarEXCELENTE TRABALHO. PARABÉNS. SABIA QUE PODEMOS REGISTAR? VALE PRO CURRICULO SE REGISTRAR
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